The cuckoo's calling...
Dia #314
"Quando o Cuco Chama" chegou a Portugal há dias, pela mão da Editorial Presença. É a história da misteriosa morte da supermodelo Lula Landry, que cai de uma varanda. O irmão de Lula, John Bristow, resolve contratar um detective privado para investigar esta estranha morte e recorre aos serviços de Cormoran Strike, um amigo de infância de outro dos seus irmãos, Charlie, também ele já morto, depois de um acidente de bicicleta. Strike começa uma série de entrevistas que vão afastar o cenário óbvio, o de suicídio, e dar a entender que Lula foi assassinada. O detective ouve o namorado da modelo, amigos, familiares e uma testemunha que se vem a revelar fundamental: uma vizinha que morava dois andares abaixo de Lula e ouviu uma grande discussão pouco antes de ela cair da varanda.
E agora a boa notícia no meio disto tudo: aqui estamos nós, eu e a Editorial Presença, para vos oferecer cinco exemplares do livro "Quando o Cuco Chama". E o que é que têm de fazer para ganhar? Enviar-me um email para oarrumadinho@gmail.com, colocar no subject "PASSATEMPO CUCO" e criar um desfecho para esta história, inventado por vocês. Só peço é para não escreverem mais de mil caracteres, senão terei dificuldades em ler tudo em tempo útil. Aceito histórias até às 21h da próxima quarta-feira, 30 DE OUTUBRO. As cinco histórias mais criativas recebem um exemplar do livro.
Toca a teclar.
Eis a minha versão linda de desfecho:
Eram seis e cinquenta. Strike andava de um
lado para o outro no meio da rua onde Lula teria supostamente caido. Sabia que
alguma coisa estava errada, algo lhe tinha escapado. A sua intuição nunca antes
lhe falhara, seria esta a primeira vez? Seria este um presságio duma reforma antecipada?
Nem queria pensar em tal coisa.
Tentava refazer os passos que o suspeito
tinha supostamente feito; descer a rua, atravessá-la e esperar no banco. Pedir
um café curto no quiosque, esperar por um morador do prédio e entrar, ir
diretamente para o 4º andar e bater à porta. Por enquanto ainda só tinha
descido a rua e comprado o café curto, mas hoje não era o dia para pensar,
simplesmente era um daqueles dias em que seria preciso uma prova muito concreta
para fazer o puzzle, seria necessária a chave mestra. Ainda por cima, a rua era
vizinha do parque cheio de pássaros, e de súbito, começa um chalrear
insurdecedor.
Foi-se sentar no banco que estava de
costas para o jardim e, como que num gesto de melancolia, pôs os fones nos
ouvidos e foi ouvir as gravações das entrevistas mais uma vez. Não sabia
porquê, mas sabia que alguma coisa lhe haveria de despertar a curiosidade.
Começou por ouvir a do namorado, o tipo parecia sincero, mas se havia alguma
coisa que tinha aprendido com a experiência de vida, foi que a sinceridade era
apenas uma distração para a culpa. Tentou ser o mais analista possível dada a
ensurdecedora situação, ele tinha motivo, Lula começou a fazer serviços para
revistas de alta custura, o que associado a isso vem pagamentos maiores, menos
tempo para a relação e uma maior probabilidade de rompimento da promessa de
monogamia. No entanto, aquele homem, não percebia porquê, mas transmitia uma
serenidade e uma pureza estranhamente reconfortante… Ouviu a entrevista dos
amigos e a entrevista da vizinha. Prestou redobrada atenção, pois era ela a sua
única fonte anónima que lhe tinha dado provas suficientes para questionar a
inocência do namorado. A vizinha, Elizabeth Crawford era velhota e não tinha
mais nada em comum que a paixão por pássaros, daí o porquê de viver naquele
sítio, frente ao parque. A única relação entre ela e Lula era quando Lula ia
para o estrangeiro a vizinha cuidava do pássaro da vítima, mais nada.
Ouvia agora a mensagem que lhe foi
mostrada pela vizinha que Lula lhe tinha mandado no dia do seu assassinato: «Srª. Crawford, por favor se puder venha
rápido cá ao meu apartamento, acho que o meu namorado me anda a… [pausa].
Alguém entrou aqui, tenho tanto medo…». Sem dúvida alguma que o namorado
lhe andava a fazer alguma coisa, mas o quê?
Strike estava numa pilha de nervos, ouvia
de tudo; corvos, abelharucos, melros, andorinhas, pardais, muitos pardais, e um
outro que não conseguia perceber bem que som era aquele, um som quase demasiado
ritmado para ser animal. Parecia que já o tinha ouvido recentemente, mas não
sabia de onde. Pensou, pensou, pensou e rendeu-se à evidência de que aquele dia
se avistava ser estupidamente infrutífero.
Levantou-se, atravessou a rua e olhou uma
última vez para a fachada do prédio e para a marca de sangue de Lula na
calçada. Deu um último suspiro antes de começar a fazer a sua caminhada de
regresso a casa, mas de repente…estarreceu. Um arrepio desceu-lhe pelas costas
e as mãos tremeram, o coração começou a bater cada vez mais depressa e uma onda
de orgulho banhou-lhe o ego na medida mesmo exata, a suficiente para saber que
não só não está velho como também ainda não perdeu o jeito, era o som dum Cuco,
um pássaro no meio de tantos e ele soube logo o que aconteceu. O Cuco é a tal
peça do puzzle, é a chave mestra, foi o Cuco que lhe deu a vitória, o simples
Cuco.
Sabia perfeitamente o que tinha
acontecido, era tudo uma cilada, uma cilada de génio. Lembrou-se da entrevista
da vizinha, a santa vizinha que tanto se tinha gabado de ter posto o pássaro a
cantar só para ela e para Lula, uma catacterísica que parece ser única desta
espécie de ave, o Cuco. De repente, outra revelação: ele sabia perfeitamente de
onde conhecia o tal som ritmado, era o som que ouvira na gravação, o som do
pássaro de Lula, o Cuco. E logo se apercebeu que a vizinha tinha cometido o
maior erro do seu golpe, quando se vangloriou das suas capacidades de
domesticação. Era a vizinha que tinha entrado no apartamento, daí o Cuco ter
começado a chamar, o namorado não tinha feito nada à modelo, foi a vizinha que
a assassinou da varanda e ficou com o pássaro.
Fez uma última revisão de raciocínio antes
de subir a rua e sorriu. Sorriu um sorriso de vitória, tinha conseguido, afinal
ainda não estava velho, tudo se resolveu e como tal podia cumprir a sua
tradição, tirar o velho caderninho preto da pasta e escrever lá a última peça
do puzzle. Bastou-lhe pôr “Quando o Cuco chama”.
0 comentários :
Enviar um comentário